Tenho voltado a estudar firme desenho e quadrinhos (ou banda desenhada) e, como sempre, acabo relacionando isso com design. Apesar de serem formatos diferentes, muita coisa nos quadrinhos – e até no cinema – pode ser aplicada ao UX Design. No fim das contas, ambos têm um objetivo parecido: guiar alguém por uma experiência, seja a de ler uma história ou a de navegar por um produto digital. Um dos materiais que mais me ajudou a entender estrutura narrativa foi o “Ebook Como Escrever Histórias – 2021”, que explica como organizar uma história para que ela prenda o leitor do começo ao fim. E isso, no UX, significa criar fluxos envolventes e intuitivos.
A conexão mais óbvia entre UX e quadrinhos é o storytelling. No design, usamos narrativa o tempo todo: onboarding, fluxos de usuário, campanhas de e-mail, notificações push – tudo isso precisa de um começo, um meio e um fim bem estruturados. Sem uma boa história, um quadrinho vira um monte de imagens sem coesão. No UX, sem um fluxo bem pensado, um produto se torna uma sequência confusa de telas que não faz sentido para o usuário. E já que estou falando de storytelling bem estruturado, preciso citar Watchmen. Sei que é óbvio, mas não tem como ignorar. A forma como Alan Moore e Dave Gibbons encaixam a história do Cargueiro Negro dentro da narrativa principal é um exemplo genial de meta linguagem e fluxo narrativo. No início, a história dentro da história parece aleatória, mas aos poucos ela espelha os dilemas dos personagens principais, criando uma conexão narrativa que só se revela totalmente no final. É um exemplo perfeito de como guiar o leitor por uma experiência bem construída. Outro quadrinho que faz isso muito bem é Daytripper, dos brasileiros Fábio Moon e Gabriel Bá, que usa capítulos independentes para contar uma história maior, conectando as peças no final de forma brilhante.
No digital, vemos exemplos de storytelling aplicados ao UX o tempo todo. O Duolingo, por exemplo, usa storytelling para transformar o aprendizado de idiomas em uma experiência gamificada e envolvente. Ele cria desafios, personagens, recompensas e um senso de progressão que faz com que os usuários se sintam avançando em uma jornada. O Spotify Wrapped é outro exemplo excelente: ele pega os dados do usuário e os transforma em uma narrativa personalizada, fazendo com que cada pessoa tenha sua própria retrospectiva musical do ano. Já o Facebook segue pelo caminho oposto. Apesar de ser um gigante do digital, a plataforma passou por tantas mudanças descoordenadas que a experiência do usuário perdeu consistência. O resultado? Uma navegação confusa e uma sensação de que o produto não tem mais uma identidade clara. Assim como em um quadrinho mal escrito, quando o fluxo de um produto digital não faz sentido, o público se perde e desiste.