Tenho estudado bastante quadrinhos (ou banda desenhada, como chamam em Portugal e outros lugares da Europa), voltado a desenhar e aplicar no meu tempo livre e, como sempre, acabo conectando isso com UX Design. Comunicação é um problema mundial, sempre foi e sempre será. A incapacidade de contar histórias afeta produtos, marcas e experiências. Por outro lado, a capacidade de construir narrativas bem feitas se tornou um grande diferencial em várias indústrias – não só nas mais óbvias, como cinema e quadrinhos, mas também no design de produtos digitais.
Algo que me fez enxergar isso de forma mais prática foi a logline. Para quem não está familiarizado, logline é aquela frase curta que resume o conceito central de uma história. Em roteiros, ela precisa ser clara o suficiente para explicar a trama em poucas palavras, mas instigante o bastante para despertar interesse. “Um tubarão ameaça uma cidade litorânea e um grupo improvável de homens precisa enfrentá-lo.” Isso é a logline de Tubarão. “Um jovem descobre que é o escolhido para derrotar um império tirânico e restaurar a paz.” Isso pode ser Star Wars ou Matrix, e mostra como uma boa logline define a essência da história sem entrar nos detalhes.
E aí fica a pergunta: seu produto tem uma logline? Se um usuário não consegue entender rapidamente o propósito de um app, site ou serviço, significa que ele está mal estruturado.
Um quadrinho que exemplifica bem a clareza narrativa é Maus, o incontestável, de Art Spiegelman. Mesmo tratando de um tema pesado como o Holocausto, ele consegue contar essa história de maneira acessível e impactante, sem rodeios. A decisão de representar os personagens como animais (judeus como ratos, nazistas como gatos) é um recurso visual poderoso, que simplifica a mensagem sem perder profundidade. No UX, buscamos exatamente isso: tornar informações complexas fáceis de entender sem sobrecarregar o usuário. Além disso, a abstração e a ludicidade são ferramentas essenciais para tornar conteúdos difíceis mais palatáveis – e isso vale para quadrinhos, UX e até para produtos educacionais.
Outro exemplo brilhante disso é Calvin e Haroldo, de Bill Watterson. Se você quer aprender sobre microcopy, não existe referência melhor. Cada tirinha é uma aula sobre como escrever diálogos curtos que carregam significado, humor e emoção. O que faz Calvin e Haroldo tão bons é o equilíbrio entre texto e imagem – cada palavra foi escolhida a dedo para transmitir o máximo com o mínimo. Isso é exatamente o que tentamos fazer no UX: microcopy bem escrito pode transformar a experiência do usuário, deixando-a mais intuitiva, fluida e até divertida.
Agora, vamos para um exemplo de UX onde storytelling e ludicidade são utilizados para ensinar: Duolingo. Já falei dele antes, mas vale reforçar. O grande diferencial do Duolingo não é apenas o ensino de idiomas, mas a forma como ele usa storytelling para engajar os usuários. Com mecânicas de jogo, desafios, personagens e recompensas, o app transforma o aprendizado em uma jornada – algo que aumenta a retenção e motiva os usuários a continuarem estudando. Mas será que temos outro exemplo que faz isso bem? Sim, e um deles é o Khan Academy. Embora não tenha um mascote carismático como o Duo, ele usa narrativa e gamificação de maneira inteligente para ensinar matemática e ciências de forma acessível, oferecendo uma trilha de aprendizado progressiva e adaptável.
Agora, se queremos falar de exemplo ruim, Microsoft Teams merece ser citado. O problema do Teams não é só um – é um combo de decisões ruins. A interface é confusa, o fluxo de navegação não é intuitivo e a comunicação dentro do produto é inconsistente. Mensagens importantes ficam perdidas, a estrutura de chat e canais é desorganizada e a experiência geral parece um “Frankenstein” de funcionalidades mal encaixadas. É um produto que não se decide entre ser uma ferramenta de mensagens ou um espaço de trabalho colaborativo – e o resultado é um UX frustrante. Teams falha porque ignora um princípio básico de design e narrativa: coesão. Se a história que um produto conta não faz sentido, o usuário se perde.
📖 2 quadrinhos que ensinam muito sobre comunicação clara:
✔️ Maus (Art Spiegelman) – Clareza narrativa e uso de abstração para simplificar temas densos.
✔️ Calvin e Haroldo (Bill Watterson) – A arte de contar muito com poucas palavras (microcopy).
💡 1 produto que faz isso bem:
✅ Khan Academy – Estrutura de aprendizado bem definida e uso de gamificação de forma intuitiva.
❌ 1 produto que falha nisso:
🚫 Microsoft Teams – Interface desorganizada, comunicação confusa e experiência inconsistente.
E aí, seu produto tem uma logline clara? Se tivesse que explicar seu projeto em uma frase, qual seria? Quero ver nos comentários! 👇